Primeira Viagem Missionária de Paulo, partindo de Antioquia |
“Na Igreja que estava
em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, Simeão, por
sobrenome Níger, e Lúcio cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o
tetrarca e Saulo. E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo:
Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a
obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e pondo sobre eles as
mãos, os despediram.”
Atos 13.1-3
Durante muito tempo a Igreja em Antioquia tem sido destacada
como modelo missionário, tanto na sua dependência do Espírito quanto no
comprometimento da sua liderança com a Obra destacada. É certo que a Igreja em
Antioquia foi um divisor de águas no Livro de Atos no que tange a evangelização
dos gentios no Mundo. Antes disso só podemos perceber insides ou movimentos individuais relacionados ao alcance dos
perdidos e somente após Atos 13 percebemos este mover missionário mais amplo e
mais pungente, principalmente através da vida do apóstolo Paulo.
Acreditamos que ainda podemos aprender muito com a Igreja em
Antioquia. Existem características indeléveis neste texto acerca do modus vivendus desta Igreja e através destas
atitudes extrairemos algumas lições para nossa meditação.
Em primeiro lugar percebe-se que o texto trata de uma Igreja
local, ou seja, não são várias Igrejas em lugares diferentes. Ela estava em
Antioquia. Daremos maior ênfase posteriormente a esta característica.
Em segundo lugar era uma Igreja que possuía a direção do
Espírito Santo através de palavras proféticas. O termo grego é “profeteus” que significa literalmente
aquele que recebe diretamente de Deus uma palavra e tem a responsabilidade de
transmiti-la ao povo. É claro também o
fato de que eram apenas “alguns” que profetizavam e não todos, diferentemente
do escárnio Corinto resachado por Paulo. Eram aqueles que admoestavam o povo a
continuar piedosos, na prática das boas obras, no amor ao próximo, na
obediência a Palavra, no ódio ao pecado e na santificação.
Ruínas da cidade de Antioquia |
Em terceiro lugar era ainda uma Igreja que tinha ensinadores
capacitados por Deus. O termo grego é “didaskalos”
que quer dizer, que ensina com destreza, pausadamente e de forma esmiuçada.
Esse era o papel destes homens, que o texto também se preocupa em afirmar que
eram alguns. Era esse grupo que descortinava diante dos olhos da congregação as
verdades escriturísticas mais profundas, eram os combatentes das heresias, os
formadores teológicos da Igreja que se formava, os estudiosos dos movimentos
que apareciam. Não havia lugar para falsos ensinos nesta Igreja.
Em quarto lugar, a Bíblia se preocupa, a semelhança quando
fala a respeito dos apóstolos de Jesus, em mencionar o nome de cada um e
declarar sua nacionalidade, ou seja, o lugar de onde vem. Podemos notar que
neste grupo mais seleto encontramos pessoas de várias lugares e grupos étnicos.
Encontramos Barnabé (um judeu), Simeão chamado Níger (termo latino da palavra
negro, provavelmente um africano), Lúcio de Cirene (árabe, da atual Líbia), Manaém
(irmão postiço de Herodes, romano) e Paulo (filho de pai romano, fariseu e
israelita da tribo de Benjamin). Qual seria a intenção das Escrituras em
desnudar para nós esta mescla de raças existente na Igreja em Antioquia? Temos
por certo que o propósito do Espírito é nos revelar que a Igreja de Jesus Cristo
pode sim ser formada de pessoas das mais diversas e com realidades
completamente antagônicas. Não existe mais “um povo escolhido”, antes o que
agora existe é “um povo que se achega ao Senhor através do sacrifício de Jesus
Cristo”. Este novo povo formado pelos nascidos de novo pode ser composto de
romanos, gregos, bárbaros, servos, livres, negros, brancos, pobres, ricos e
ainda por pessoas de todas as épocas e séculos.
Em quinto lugar lê-se que era uma Igreja que estava “servindo
e jejuava”. Essa palavra “servindo” vem do grego “leitorgeo”, do qual se deriva a palavra liturgia, ou seja, era uma
Igreja que praticava os cultos de forma constante. Haviam cultos em dias
determinados com horários estabelecidos na Igreja em Antioquia. A Palavra que o
Espírito Santo trouxe para os presentes com certeza foi transmitida durante um
culto ao Senhor. Não eram reuniões paralelas, escusas, ocultas, fantasiosas ou
espiritualizantes. Eram cultos racionais que se prestavam ao Senhor e o
Espírito nestas oportunidades falava com o Seu povo. A palavra grega para “jejuava”
é “nesteuo” que significa
literalmente “abster-se de comida com fins religiosos”. Realmente se tratava de
uma Igreja madura, espiritual, serva e que queria agradar ao Seu Senhor em
todas as coisas.
Como deveria ser agradável congregar em Antioquia. Aqueles
irmãos experimentavam de mensagens reveladas, tinham ensinos profundos a
respeito das verdades bíblicas, eram organizados possuindo dias e horas para os
seus cultos e ainda jejuavam, mortificando assim os desejos carnais. Aleluia.
Vejamos o que se segue. Acreditamos que em um culto diário
oferecido ao Senhor como de costume, os crentes se reuniram para mais uma vez
adorar ao Senhor, quando a Palavra de Deus se manifestou não se sabe como, mas
não é difícil imaginar visto ser esta Igreja possuidora de pessoas capacitadas
para isso tanto profetas quanto os doutores, e a direção foi que esta Igreja
deveria “apartar para O Espírito” os homens chamados Barnabé e Saulo para uma
Obra a qual Ele já os havia chamado.
Se o propósito de Deus final é que o nome dEle seja glorificado
e apenas isso, como alguns defendem, por que Ele ainda se preocuparia em
convocar dois daqueles homens em uma comunidade tão perfeita para servirem como
mensageiros das Boas Novas em terras estranhas? É certo de que o propósito
final é a Glória do Senhor, mas não podemos esquecer que é da Vontade de Deus
que pessoas das mais diversas raças, povos, tribos, línguas e nações o adorem
(Ap 7.9).
Deus não podia muito bem contentar-se com a abundância
existente na Igreja em Antioquia? Faltava-lhes alguma coisa? Alguma prática litúrgica?
Alguma atitude piedosa? Acreditamos que não. Não lhes faltava absolutamente
nada. Se tratava de uma Igreja exemplar, com os mais capacitados doutores e os
mais espirituais profetas. Mas aprouve ao Senhor solicitar desta Igreja um
envolvimento maior concernente a Vontade Máxima de Deus que é que em todo lugar
e para todos exista uma possibilidade sincera de todos os homens aceitarem ou
negarem a oferta salvífica do Filho de Deus. É da vontade de Deus que todos os
homens cheguem ao arrependimento, ao conhecimento de Jesus Cristo, aos pés da
Cruz.
E agora retornando ao fato de se tratar de uma Igreja local,
podemos afirmar que a Obra Missionária é de responsabilidade da Igreja local, e
não apenas da Convenção ou Ministério. São as Igrejas locais que estimulam os
irmãos na prática da oração, na contribuição e também é na Igreja local que o
Espírito Santo continua chamando homens e mulheres para Sí com o objetivo de
alcançar mais almas para o Reino de Deus.
Este lugar preparado pelo Senhor para proclamação e ensino
da Sua Palavra, para louvor do Seu Nome e adoração à Sua Pessoa é o lugar onde
Deus fala com o Seu povo ainda hoje e os comissiona para ir e pregar o
Evangelho a toda criatura. Não é da responsabilidade das agências, secretarias
ou comissões realizara Obra Missionária, mas esta tarefa o Senhor concedeu para
a Sua Igreja. Esta é a Vontade de Deus.
Estamos buscando esta Vontade?
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