segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Igreja de Antioquia e a Vontade de Deus

Primeira Viagem Missionária de Paulo, partindo de Antioquia


“Na Igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, e Lúcio cireneu, e  Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca e Saulo. E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a  Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.”
Atos 13.1-3

Durante muito tempo a Igreja em Antioquia tem sido destacada como modelo missionário, tanto na sua dependência do Espírito quanto no comprometimento da sua liderança com a Obra destacada. É certo que a Igreja em Antioquia foi um divisor de águas no Livro de Atos no que tange a evangelização dos gentios no Mundo. Antes disso só podemos perceber insides ou movimentos individuais relacionados ao alcance dos perdidos e somente após Atos 13 percebemos este mover missionário mais amplo e mais pungente, principalmente através da vida do apóstolo Paulo.
Acreditamos que ainda podemos aprender muito com a Igreja em Antioquia. Existem características indeléveis neste texto acerca do modus vivendus desta Igreja e através destas atitudes extrairemos algumas lições para nossa meditação.

Em primeiro lugar percebe-se que o texto trata de uma Igreja local, ou seja, não são várias Igrejas em lugares diferentes. Ela estava em Antioquia. Daremos maior ênfase posteriormente a esta característica.
Em segundo lugar era uma Igreja que possuía a direção do Espírito Santo através de palavras proféticas. O termo grego é “profeteus” que significa literalmente aquele que recebe diretamente de Deus uma palavra e tem a responsabilidade de transmiti-la ao povo.  É claro também o fato de que eram apenas “alguns” que profetizavam e não todos, diferentemente do escárnio Corinto resachado por Paulo. Eram aqueles que admoestavam o povo a continuar piedosos, na prática das boas obras, no amor ao próximo, na obediência a Palavra, no ódio ao pecado e na santificação.
Ruínas da cidade de Antioquia
Em terceiro lugar era ainda uma Igreja que tinha ensinadores capacitados por Deus. O termo grego é “didaskalos” que quer dizer, que ensina com destreza, pausadamente e de forma esmiuçada. Esse era o papel destes homens, que o texto também se preocupa em afirmar que eram alguns. Era esse grupo que descortinava diante dos olhos da congregação as verdades escriturísticas mais profundas, eram os combatentes das heresias, os formadores teológicos da Igreja que se formava, os estudiosos dos movimentos que apareciam. Não havia lugar para falsos ensinos nesta Igreja.
Em quarto lugar, a Bíblia se preocupa, a semelhança quando fala a respeito dos apóstolos de Jesus, em mencionar o nome de cada um e declarar sua nacionalidade, ou seja, o lugar de onde vem. Podemos notar que neste grupo mais seleto encontramos pessoas de várias lugares e grupos étnicos. Encontramos Barnabé (um judeu), Simeão chamado Níger (termo latino da palavra negro, provavelmente um africano), Lúcio de Cirene (árabe, da atual Líbia), Manaém (irmão postiço de Herodes, romano) e Paulo (filho de pai romano, fariseu e israelita da tribo de Benjamin). Qual seria a intenção das Escrituras em desnudar para nós esta mescla de raças existente na Igreja em Antioquia? Temos por certo que o propósito do Espírito é nos revelar que a Igreja de Jesus Cristo pode sim ser formada de pessoas das mais diversas e com realidades completamente antagônicas. Não existe mais “um povo escolhido”, antes o que agora existe é “um povo que se achega ao Senhor através do sacrifício de Jesus Cristo”. Este novo povo formado pelos nascidos de novo pode ser composto de romanos, gregos, bárbaros, servos, livres, negros, brancos, pobres, ricos e ainda por pessoas de todas as épocas e séculos.
Em quinto lugar lê-se que era uma Igreja que estava “servindo e jejuava”. Essa palavra “servindo” vem do grego “leitorgeo”, do qual se deriva a palavra liturgia, ou seja, era uma Igreja que praticava os cultos de forma constante. Haviam cultos em dias determinados com horários estabelecidos na Igreja em Antioquia. A Palavra que o Espírito Santo trouxe para os presentes com certeza foi transmitida durante um culto ao Senhor. Não eram reuniões paralelas, escusas, ocultas, fantasiosas ou espiritualizantes. Eram cultos racionais que se prestavam ao Senhor e o Espírito nestas oportunidades falava com o Seu povo. A palavra grega para “jejuava” é “nesteuo” que significa literalmente “abster-se de comida com fins religiosos”. Realmente se tratava de uma Igreja madura, espiritual, serva e que queria agradar ao Seu Senhor em todas as coisas.
Como deveria ser agradável congregar em Antioquia. Aqueles irmãos experimentavam de mensagens reveladas, tinham ensinos profundos a respeito das verdades bíblicas, eram organizados possuindo dias e horas para os seus cultos e ainda jejuavam, mortificando assim os desejos carnais. Aleluia.
Vejamos o que se segue. Acreditamos que em um culto diário oferecido ao Senhor como de costume, os crentes se reuniram para mais uma vez adorar ao Senhor, quando a Palavra de Deus se manifestou não se sabe como, mas não é difícil imaginar visto ser esta Igreja possuidora de pessoas capacitadas para isso tanto profetas quanto os doutores, e a direção foi que esta Igreja deveria “apartar para O Espírito” os homens chamados Barnabé e Saulo para uma Obra a qual Ele já os havia chamado.
Se o propósito de Deus final é que o nome dEle seja glorificado e apenas isso, como alguns defendem, por que Ele ainda se preocuparia em convocar dois daqueles homens em uma comunidade tão perfeita para servirem como mensageiros das Boas Novas em terras estranhas? É certo de que o propósito final é a Glória do Senhor, mas não podemos esquecer que é da Vontade de Deus que pessoas das mais diversas raças, povos, tribos, línguas e nações o adorem (Ap 7.9).
Deus não podia muito bem contentar-se com a abundância existente na Igreja em Antioquia? Faltava-lhes alguma coisa? Alguma prática litúrgica? Alguma atitude piedosa? Acreditamos que não. Não lhes faltava absolutamente nada. Se tratava de uma Igreja exemplar, com os mais capacitados doutores e os mais espirituais profetas. Mas aprouve ao Senhor solicitar desta Igreja um envolvimento maior concernente a Vontade Máxima de Deus que é que em todo lugar e para todos exista uma possibilidade sincera de todos os homens aceitarem ou negarem a oferta salvífica do Filho de Deus. É da vontade de Deus que todos os homens cheguem ao arrependimento, ao conhecimento de Jesus Cristo, aos pés da Cruz.
E agora retornando ao fato de se tratar de uma Igreja local, podemos afirmar que a Obra Missionária é de responsabilidade da Igreja local, e não apenas da Convenção ou Ministério. São as Igrejas locais que estimulam os irmãos na prática da oração, na contribuição e também é na Igreja local que o Espírito Santo continua chamando homens e mulheres para Sí com o objetivo de alcançar mais almas para o Reino de Deus.
Este lugar preparado pelo Senhor para proclamação e ensino da Sua Palavra, para louvor do Seu Nome e adoração à Sua Pessoa é o lugar onde Deus fala com o Seu povo ainda hoje e os comissiona para ir e pregar o Evangelho a toda criatura. Não é da responsabilidade das agências, secretarias ou comissões realizara Obra Missionária, mas esta tarefa o Senhor concedeu para a Sua Igreja. Esta é a Vontade de Deus.
Estamos buscando esta Vontade?

Nenhum comentário:

Postar um comentário